Em vídeo, pastor Marco Feliciano pede dinheiro para fiéis
O pastor Marco Feliciano (PSC-SP), eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados nesta quinta-feira, 7, aparece em um vídeo pedindo doações para fiéis da Assembleia de Deus, sua igreja. Na gravação, de fevereiro do ano passado, ele pede contribuições de R$ 1 mil, diz que aceita cheque pré-datado e reclama de um homem que entregou o cartão de crédito, mas não forneceu a senha.
“É a última vez que eu falo, Samuel de Souza doou o cartão, mas não doou a senha. Aí não vale. Depois vai pedir o milagre para Deus e Deus não vai dar e ele vai falar que Deus é ruim”, afirmou.
Durante a pregação, Feliciano diz que não vai parar de pedir as contribuições porque tem uma meta a cumprir e ensina aos fiéis a doarem até mesmo pela internet.
No culto, uma pessoa chega a doar uma motocicleta e um cadeirante tetraplégico entrega um cheque de R$ 1 mil ao pastor e explica por que decidiu fazer a oferenda: “Eu disse para as pessoas que a igreja estava virando um negócio para ganhar dinheiro, e aí eu imagino que o demônio estava tentando a minha mente. Mas hoje eu quero ver a minha vitória, aqui, pela fé, R$ 1 mil”.
Feliciano agradece: “Ele veio como murmurador. Vai voltar para casa como o homem mais abençoado da festa. Ainda vou pregar com você por ai, viu, garoto?”.
Após repetir diversas vezes que quem “crê dá um jeito” de fazer as doações, o pastor afirma que, se a pessoa não tiver os R$ 1 mil, pode doar apenas R$ 500.
“‘Pastor, R$ 1 mil eu não aguento, mas R$ 500 eu aguento’. Traga R$ 500. Você só não pode perder a bênção. Quem crê dá um jeito”, afirmou.
O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), conhecido por declarações homofóbicas e racistas, foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara nesta quinta-feira 7.
A escolha de Feliciano, manobrada pela bancada evangélica, ocorreu sob alta tensão. Deputados ligados à causa dos direitos humanos se retiraram da reunião, em protesto contra o nome do pastor e também em razão da proibição, determinada pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), de que a votação na CDHM ocorresse a portas fechadas. Manifestantes ocuparam os corredores da Câmara, mas foram impedidos de entrar na sala em que a escolha foi oficializada.
O abandono na CDHM foi liderado por Domingos Dutra (PT-MA), presidente da comissão até a manhã desta quinta. Dutra afirmou que a forma como a votação foi conduzida configurava uma “ditadura”. O petista foi acompanhado pelos deputados Padre Ton (PT-RO), Erika Kokay (PT-DF), Jean Wyllys (Psol-RJ), Luiza Erundina (PSB-SP), Luiz Couto (PT-PB) e Janete Pietá (PT-SP). Com a presença apenas de integrantes da bancada evangélica, Feliciano recebeu o voto de 11 dos 12 deputados que permaneceram na comissão.
A votação já havia sido adiada na quarta-feira 6, quando manifestantes defensores dos direitos dos homossexuais e dos negros lotaram a sala da comissão e pressionaram os membros do colegiado para votar contra a indicação do pastor.
Os deputados rebelados disseram que cogitam formar uma comissão paralela de Direitos Humanos e devem se reunir novamente na próxima terça-feira 12. Para a deputada Erika Kokay (PT-DF), a eleição de Feliciano representa a “desmoralização do Congresso”. “O que a bancada fundamentalista tenta fazer é transformar as vítimas em algozes. Isso é uma estratégia fascista”, afirmou Kokay pelo Twitter. “Esta comissão não é mais a Comissão dos Direitos Humanos”, disse Luiza Erundina (PSB-SP).
Apoio de pastores
Sem os deputados ligados aos direitos humanos, a sessão da CDHM se transformou em uma sessão para atacar os homossexuais. A eleição que levou Feliciano ao cargo foi presidida por Costa Ferreira (PSC-MA). Durante os discursos elogiosos a Feliciano após a eleição, deputados se mostraram contra a criminalização da homofobia. O deputado Hidekazu Takayama (PSC-PR) disse que todos naquela sala haviam vindo de uma relação entre um homem e uma mulher. Takayama disse que os mais de 3 mil assassinatos de homossexuais no país não foram feitos por cristãos, mas pelos próprios homossexuais. “93 ou 97 por cento dos casos foram por parceiros dessas pessoas. E os outros por esses malucos chamados skinheads. Cristãos não são homofóbicos,” disse o deputado.
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), defensor notório da ditadura, reclamou dos protestos. “A esquerda não achou nenhum problema na eleição do Raúl Castro lá em Cuba, impressionante”, disse. “Não assistiremos mais aqui seminário LGBT infantil, com crianças sendo estimuladas uma a fazer sexo com a outra.” Durante seu discurso, Feliciano disse que não era homofóbico ou racista. “Os cristãos nesses momentos, ao invés de estarem aqui, estão rezando pelo país inteiro.” Em seu discurso, ele também agradeceu o apoio do PSC. “Com todo respeito às outras siglas, não sei se os outros partidos suportariam a pressão que o meu partido sofreu.”
“Aids era o câncer gay”
Feliciano já causou diversas polêmicas com seus comentários. Em um discurso durante um congresso evangélico, ele afirmou que a Aids era o “câncer gay”.
“A própria ciência revela o predomínio de infecção por esta doença em pessoas manifestamente homossexuais, tanto é verdade que quando se doa sangue na entrevista se for declinada a condição de homossexual essa doação é recusada”, sustentou mais tarde também em seu site.
Em 2011, publicou no Twitter que os descendentes de africanos seriam pessoas amaldiçoadas. “A maldição que Noé lança sobre seu neto, Canaã, respinga sobre o continente africano, daí a fome, pestes, doenças, guerras étnicas!”
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