sexta-feira, 29 de março de 2013




Para fugir do preconceito, mulheres sauditas se passam por homens



É cada vez mais comum as adolescentes sauditas optarem por se vestir como homens, seja por sua orientação sexual ou para fugir da discriminação contra as mulheres, uma tendência que começa a preocupar as autoridades locais.

No reino da Arábia Saudita, onde se pratica uma rigorosa versão do Islã, as mulheres são proibidas de trabalhar, casar e fazer consultas médicas sem autorização de um parente masculino.
Diante do aumento das jovens que optam em ter uma aparência masculina nas universidades e escolas, a polícia religiosa saudita decidiu proibir a entrada das mesmas em centros escolares até que "retifiquem sua conduta".

Para escapar dessa proibição, algumas estudantes começam a deixar seus cabelos crescerem, como Nouf, 19 anos. "Desde que essa proibição começou, eu deixei meu cabelo crescer para desviar a atenção das porteiras da universidade, mas não penso em renunciar essa minha tendência", afirmou Nouf, que diz que ela não é lésbica porque não sente atração pelas mulheres e que no futuro deseja se casar com um homem.

De acordo com a estudante, se vestir e atuar de forma masculina são atos de rebeldia contra uma sociedade em que as mulheres não têm liberdade.
"Desde pequena sinto um persistente desejo de me comportar como um rapaz, já que eu cortava o cabelo muito curto e gostava de me vestir como os homens, independente das críticas da sociedade", apontou.
Mas essa minha decisão nunca foi fácil para a jovem. Sua família, que continua contraria a essa tendência, não gostava que Nouf se comportasse como um menino e, por isso, foi muito castigada. "A sociedade não deseja ver uma jovem se expressando com liberdade", declarou. "Eu sei que ninguém pode entender minha personalidade, mas não me interessa o que pensam de mim", completou Nouf.

Apesar de alegar que se trata de um ato de rebeldia, algumas de suas amigas lésbicas também se vestem de menino e fogem das restrições sociais se reunindo em suas casas.
Já Semah, 22 anos, declarou que, "apesar de haver muitas meninas lésbicas vestidas como homens na universidade, essa porcentagem não passa de um quarto".
No entanto, a jovem reconheceu que há muitas estudantes que tentam deixar o bigode e a barba crescer. Segundo Semah, é comum ouvir comentários sobre casamentos secretos entre as próprias mulheres, embora nunca tenha assistido uma dessas cerimônias.
Em uma ocasião, Semah conta que chegou a ser assediado por uma companheira no banheiro e, por isso, apresentou uma queixa à administração da escola. A menina acusada, por sua vez, recebeu uma ameaça de expulsão caso o episódio voltasse a ocorrer.
Uma supervisora de uma faculdade feminina, que pediu para não ser identificada, assegurou à Agência Efe que ela percebeu um aumento do número de mulheres que se vestem como homens nos últimos anos. A supervisora não mostra indulgência nos casos de assédio e explicou que geralmente são aplicadas severas punições nestes casos.
Se o fenômeno é observado claramente nos centros escolares, a imprensa saudita quase não menciona esse fato, embora o jornal local Al Sharq tenha publicado uma reportagem que fazia um alerta sobre essa situação.
Na matéria, que foi divulgada no último mês, uma funcionária da escola governamental assinalava que tinha percebido que cada vez mais podia ver meninas com roupas de meninos nos colégios de ensino fundamental e médio, considerando "como um sério e verdadeiro problema".
Algumas jovens entrevistadas pelo jornal se queixaram "das rígidas restrições sociais, que proíbem elas de expressarem seus gostos de maneira natural".

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