Guerra das Malvinas completa 30 anos; conheça a história das ilhas
Arquipélago no Atlântico Sul foi avistado pela primeira vez no século 16 e é alvo de disputa entre Argentina e Grã-Bretanha
Uma conquista colonial
As origens do domínio britânico remontam ao período colonial, quando os ingleses chegaram ao território, localizado a cerca de 480 km do litoral argentino, e ao século 19, com o fim da colonização espanhola na América Latina.
'As Ilhas Malvinas foram conquistadas durante o período colonial, divididas entre Inglaterra e Espanha até o século XIX, quando ocorre a independência das colônias na América espanhola. Desse modo, como a Espanha não está mais lá, o lado espanhol passa a ser argentino, mas é ocupado pelos ingleses. A Argentina não tem condições de fazer frente à Inglaterra e não consegue a ocupação do território',
Em busca do prestígio perdido
Em busca de popularidade, o enfraquecido governo militar argentino decide utilizar a questão como uma tentativa de ganhar prestígio. Em 2 de abril de 1982, as forças navais argentinas invadem a capital do arquipélago, Port Stanley. Como resposta à invasão, os ingleses enviam uma força tarefa para as Malvinas no mesmo mês.
'Foi claramente uma aventura de final de ciclo autoritário, uma armação completamente fora de qualquer procedimento diplomático reconhecido. A ação foi pouco planejada, do ponto de vista militar: não dá para imaginar que a Argentina tivesse condições de ganhar essa guerra, ainda mais no meio de uma crise. Esses fatores indicam que foi mais um ato de desespero político do que uma questão de recuperar a soberania das Malvinas'
'Foi claramente uma aventura de final de ciclo autoritário, uma armação completamente fora de qualquer procedimento diplomático reconhecido. A ação foi pouco planejada, do ponto de vista militar: não dá para imaginar que a Argentina tivesse condições de ganhar essa guerra, ainda mais no meio de uma crise. Esses fatores indicam que foi mais um ato de desespero político do que uma questão de recuperar a soberania das Malvinas'
Sem o apoio dos Estados Unidos
Além de subestimar a reação britânica à invasão às Malvinas, o governo argentino também apostou erroneamente que os Estados Unidos iriam apoiá-lo no conflito. Entretanto, os argentinos se depararam com outra posição por parte dos americanos.'Eles acharam que os Estados Unidos iriam defendê-los, levando em conta o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, o TIAR, de 1948, com caráter antissoviético. Mas a Argentina reivindicou o TIAR e os Estados Unidos disseram que o tratado só valia quando o país era agredido. Como tinha alianças com a Otan, os Estados Unidos não ajudaram os argentinos, muito pelo contrário, aliaram-se aos ingleses
O rolo compressor
A reação inglesa foi bastante forte e firme no sentido de manter a posse das Malvinas e, ao longo do conflito, a superioridade militar da Grã-Bretanha tornou-se evidente. Dessa forma, as baixas do lado argentino foram bem maiores: apenas em um incidente o número de argentinos mortos foi maior do que o de ingleses durante todo o conflito. No dia 2 de maio, longe da zona de conflito, o cruzador General Belgrano é torpedeado por um submarino britânico e afunda, matando 368 homens.'Era só ver o tamanho dos navios ingleses para saber que a Inglaterra iria ganhar a guerra. A superioridade era evidente. Apesar dos naufrágios, as maiores perdas dos argentinos foram as dos contingentes em terra: uma série de soldados foi massacrada pelas condições climáticas. Eles mal conheciam o terreno e tinham poucos armamentos: foi um verdadeiro rolo compressor inglês
Apenas uma vitória
Dois dias após o afundamento do General Belgrano, os argentinos conseguiram uma importante vitória, a oeste das Malvinas. A resistência aérea atingiu o destroier britânico Sheffield, ferindo e matando diversos homens. Mais do que a baixa em si, essa batalha teve uma importância simbólica para os argentinos dentro da guerra.
'Ao longo da guerra, entre todas as batalhas principais, os argentinos venceram apenas uma, quando afundaram o destroier, conseguindo burlar o sistema de radar inglês. Além dessa batalha e da invasão inicial à ilha, impuseram também mais de 200 mortes aos ingleses, mas perderam as outras batalhas aéreas e marítimas
'Ao longo da guerra, entre todas as batalhas principais, os argentinos venceram apenas uma, quando afundaram o destroier, conseguindo burlar o sistema de radar inglês. Além dessa batalha e da invasão inicial à ilha, impuseram também mais de 200 mortes aos ingleses, mas perderam as outras batalhas aéreas e marítimas
Demonstração de força
Mais do que a defesa de um território, a Guerra das Malvinas foi uma oportunidade para os britânicos demonstrarem força aos olhos de todo o mundo. Além disso, era politicamente interessante para o governo Thatcher um evento como esse, que sanasse as crises internas pelas quais a Inglaterra passava na época.'A Inglaterra aproveitou o momento para afirmar o seu poder interno e internacional: poder para impor as reformas neoliberais e para ter força interna junto ao parlamento, quebrando a resistência dentro da Inglaterra, e poder para demonstrar sua força perante o mundo. A comparação entre a capacidade militar dos países era completamente desproporcional. E quanto à disputa de terra e à importância das Malvinas, isso se dá porque qualquer espaço de terra no mundo sempre vai ser disputado
Fim da guerra e do regime
Após dois meses e meio de guerra, em clara desvantagem militar e sem apoio diplomático, a Argentina finalmente capitulou, no dia 14 de junho de 1982. O fim do conflito e a derrota para os ingleses também contribuiu para o fim do já enfraquecido e impopular governo militar do general Leopoldo Galtieri, que renunciou no mês seguinte. Seu sucessor, o general Reynaldo Bignone, iniciou as negociações para devolver o poder aos civis, que voltaram à Casa Rosada em 1983, com a vitória de Raul Alfonsín nas eleições presidenciais. 'O pequeno movimento de apoio interno ao regime que se formou foi rapidamente extinto dada a vergonhosa derrota, que confirmou a impressão de que o governo era de uma absoluta irresponsabilidade. De fato, a derrota culminou com a derrocada dos militares, e o tema está entalado na garganta dos argentinos até hoje'
Fortalecimento do governo Thatcher
A vitória na Guerra das Malvinas foi essencial para consolidar o governo da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, vencendo as resistências internas durante um momento de união por um interesse comum a todos os britânicos. Consequentemente, Thatcher conseguiu a vitória de seu partido, o Conservador, nas eleições do mesmo ano. 'Ela conseguiu capitalizar apoio político durante um momento de transição muito forte na Inglaterra, de retomada dos conservadores ao poder, muito ao contrário do que aconteceu na Argentina. Não dá para levar esse apoio até muito longe, mas, naquele momento, a vitória teve um impacto favorável, sem dúvida
Tentativa de negociação
Trinta anos depois, qual a posição de argentinos e britânicos sobre as negociações envolvendo as Ilhas Malvinas/Falklands? Enquanto a Grã-Bretanha se nega a negociar, a Argentina deseja fortemente o florescimento de um debate sobre o tema.
'Não há mais possibilidade de guerra, nem existem mais condições para isso atualmente. Eu acho que a pretensão argentina é forçar uma negociação diplomática, que inclusive já estava prevista em 1982. E eles têm toda a América a seu favor, desde a Venezuela até o Brasil, exceto os Estados Unidos
O petróleo é nosso!
Além do interesse em resgatar um território perdido no século 19, a Argentina quer se beneficiar da importância estratégica e dos possíveis recursos naturais disponíveis na região das Ilhas Malvinas. Recentemente, estudos sinalizando a presença de petróleo no arquipélago colaboraram para que se intensificasse a ofensiva diplomática argentina para retomar as negociações sobre a posse do território.
'As Malvinas fazem parte de uma região na qual pode haver uma continuação da camada pré-sal, com sinais de presença de petróleo, e a Argentina também tem interesse em ganhar participação sobre os royalties. Dessa forma, a presidente Cristina Kirchner pode forçar uma negociação para que haja o compartilhamento desses royalties, futuramente. Além disso, a região também é uma importante passagem marítima, uma interligação para o Oceano Atlântico, que também pode ser uma alternativa ao Canal do Panamá
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