Isadora Duncan
A bailarina Isadora Duncan foi a iniciadora do balé moderno, possuía uma atitude transgressora e espírito livre que se tornaria um símbolo para o feminismo
Ela causou escândalo em sua época ao trocar os Estados Unidos pela União Soviética, afirmando: “Prefiro viver de pão preto e vodca e sentir-me livre, a gozar as delícias da vida americana sabendo-me prisioneira.”
Isadora Duncan era a segunda dos quatro filhos do poeta Joseph Charles e da pianista e professora de música Dora Gray Duncan. Nasceu em 1878, em São Francisco, e viveu uma infância atípica para os padrões da época. Filha de pais divorciados, ela, a irmã e os dois irmãos, foram criados na pobreza por sua mãe solteira, e além de receberem a educação formal, a mãe fazia questão de dar-lhes desde cedo, aulas particulares de literatura, poesia, música e artes plásticas.
Quando ela tinha ainda quatro anos, começou a freqüentar aulas de balé clássico. Na adolescência se apresentava acompanhada dos três irmãos ao som do piano de sua mãe. Desde cedo ela dava mostras de um temperamento transgressor, que a leva a abandonar as convenções do balé da época. As técnicas convencionais do balé clássico e romântico eram extremamente rígidas. Pedia a utilização do espaço geométrico do palco de maneira axial simétrica, durante as apresentações, o homem era sempre o líder e condutor dos movimentos, auxiliando também as mulheres, que deveriam preservar uma dança discreta, e o andar suave.
Aos 11 anos, a jovem Isadora já apresentava uma sensibilidade muito particular, desenvolvendo uma maneira própria de dança. Nessa idade começou também a dar aulas de sua nova técnica. Isadora considerava antiquadas as técnicas clássicas e as sapatilhas de ponta, além de serem incômodas e deformarem o corpo feminino. Foi ela a primeira manifestação substancial do movimento de ruptura que surgiria dentro do balé e que buscava uma forma de dança mais livre e expressiva. Nas palavras dela: "A beleza da arte não é feita de ornamentos, mas daquilo que flui da alma humana inspirada e do corpo que é seu símbolo..."
O surgimento do balé moderno
O sucesso na Europa
Quando completou 18 anos, procurando expandir sua carreira, Duncan se mudou para Chicago, onde foi contratada por Augustin Daly, o maior empresário teatral da época.
Com ele, fez diversas excursões, passou por Nova Iorque e Londres onde dançava também em reuniões organizadas por damas da alta sociedade que a levaram em 1900, para Paris. Com sua chegada à França, desde sua primeira apresentação causou grande polêmica com seu balé revolucionário e seus véus transparentes; e onde finalmente acabou encontrando o reconhecimento que buscava quando se apresentou no teatro Sarah Bernhardt. Rapidamente conseguiu fechar contratos para se apresentar na Alemanha, Hungria, Rússia, Grécia e uma turnê por cidades da Boêmia.
Funda em 1904 sua primeira escola de dança, em Grunewald, na Alemanha, dirigida por sua irmã Elizabeth. Isadora dava preferência para meninas pobres e cuidava de suas necessidades materiais e físicas, além do ensino acadêmico tradicional. Estas meninas eram conhecidas como “Les Isadorables”, algo como “As Isadoráveis”, que demonstra o carinho que ela tinha pelas crianças.
Desde o início da carreira, Isadora sempre pensou investir seus ganhos na educação de jovens, aperfeiçoando novos talentos.
Desgraçadamente, em 1913, seus dois filhos, Deirdre e Patrick, morreram afogados quando o carro em que estavam caiu dentro do rio Sena, juntamente com sua governanta. Profundamente abalada, a bailarina cancelou todas suas apresentações e permaneceu durante meses afastada dos palcos. Um ano depois sua tragédia continuou, quando deu à luz um terceiro bebê do sexo masculino, que morreu poucas horas após o parto.
Quando explodiu a Primeira Guerra Mundial, Duncan retornou aos Estados Unidos para realizar uma turnê com sua companhia, mas foi barrada no aeroporto pelo fato de suas bailarinas serem alemãs. Para resolver a questão, Isadora adotou todas as seis garotas.
Em 1916 excursionou também pela América do Sul, e chegou a fazer uma apresentação no Brasil, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
O chamado dos sovietes
Ao que ela respondeu: “Aceito. Irei à Rússia, ensinarei suas crianças. Quero apenas que me dêem um estúdio e o dinheiro indispensável para trabalhar”. A resposta do governo soviético foi “sim”, e Isadora partiu imediatamente de navio para Moscou.
Chegando lá, o Comissariado da Educação lhe destinou o palácio Balachova, um casarão de dois andares, onde cerca de mil crianças estavam matriculadas. Em 1921 era fundada a Escola Soviética de Dança, em Moscou.
A seguir, saiu em mais uma turnê pelos Estados Unidos, a qual foi abreviada em virtude da polêmica que causavam seus discursos em favor da União Soviética. "Amo a Rússia, porque a Rússia possui tudo o que falta aos Estados Unidos...” disse ela em discurso. E em sua última entrevista ela ainda afirmou: “Não vejo a hora de chegar à União Soviética. Prefiro viver de pão preto e vodca e sentir-me livre, a gozar as delícias da vida americana sabendo-me prisioneira... Na Rússia, temos liberdade. O povo americano ainda não sabe o que é isso...”
Esta sua união foi tempestuosa e durou cerca de dois anos, culminando com o suicídio do poeta em 1925, que se matou enforcado com a correia de sua mala um ano após o final do relacionamento dos dois.
Após a separação, Isadora voltou para a França e passou seus últimos anos na cidade de Nice, na Riviera francesa. Nessa época havia já abandonado os palcos e atravessava uma fase de decadência, tomando remédios e vivendo entregue ao alcoolismo. Escreveu em 1927 o livro autobiográfico “Minha vida”, em que relata os principais fatos de sua vida e carreira até o momento em que vai para a União Soviética.
Em 14 de setembro de 1927, aos 49 anos, morreu da mesma forma espetacular como viveu. Estava instalada no banco traseiro de seu carro conversível, que era dirigido por seu motorista. O xale enrolado ao seu pescoço dançava ao vento quando as franjas do xale enroscaram-se na roda do veículo. Sua cabeça foi lançada para trás e a nuca foi quebrada. Morreu estrangulada. Ironicamente, desde a morte de seus filhos, Deidre e Patrick, ela se recusava a entrar em carros fechados.
Em homenagem à bailarina, foi criada em 1979, a Isadora Duncan Dance Foundation, em Nova Iorque. Os arquivos pessoais de Isadora Duncan estão atualmente no Lincoln Center, também em Nova Iorque.
"Meu corpo é o templo da minha arte. Eu exponho-o como altar para a adoração da beleza."
"Meu corpo é o templo da minha arte. Eu exponho-o como altar para a adoração da beleza."
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