terça-feira, 29 de janeiro de 2013



Mais mulheres retiram mamas saudáveis para reduzir risco de câncer
Nos anos 1970, os defensores dos direitos das mulheres tinham muitas dúvidas em relação à mastectomia. Eles afirmavam que os cirurgiões – grupo que na época era formado quase que somente por homens – removiam as mamas rápido demais após o diagnóstico de câncer.
 
Mais mulheres retiram mamas saudáveis para reduzir risco de câncer
Mas hoje as coisas mudaram. Uma nova geração de mulheres exige que os médicos utilizem abordagens mais agressivas, e um número cada vez maior vem pedindo a retirada até de mamas saudáveis com o intuito de evitar o surgimento de um câncer.
Os pesquisadores estimam que até 15 por cento das mulheres com câncer de mama – 30 mil casos ao ano – optam por retirar as duas mamas, decisão que, no final dos anos 1990, era tomada por 3 por cento das mulheres. Aparentemente a grande maioria dessas mulheres nunca realizou testes ou recebeu aconselhamento genético e toma a decisão com base em um medo exagerado de risco de reincidência.
Além disso, os médicos afirmam que é cada vez maior o número de mulheres que pede para se submeter à mastectomia sem ter recebido diagnóstico de câncer, amparadas pela existência de um risco genético. (Essas mulheres não constam dos bancos de dados de registro de câncer, por isso seu número é desconhecido).
'O que enfrentamos é quase uma epidemia de mastectomia profilática', afirmou a Dr. Isabelle Bedrosian, oncologista cirúrgica do Centro Oncológico M.D. Anderson, em Houston. 'Eu acredito que a comunidade médica tenha notado. Por que as mulheres têm optado pela cirurgia, se não temos dados que expressem essa necessidade do ponto de vista oncológico?'
Um dos motivos talvez sejam as campanhas intermináveis de conscientização que incutiram nas mulheres um medo permanente da doença. É possível que os aprimoramentos das cirurgias de reconstrução também estejam contribuindo com essa tendência, bem como o anúncio público de celebridades sobre a decisão de realizar a mastectomia preventiva.
Allyn Rose, 24 anos, representante do estado de Washington D.C. no concurso Miss Estados Unidos, esteve nas manchetes este mês, quando anunciou seus planos de remover as duas mamas após o concurso. A mãe e a avó da modelo morreram de câncer de mama. A personalidade televisiva Giuliana Rancic, 37 anos, e a atriz Christina Applegate, 41 anos, também anunciaram publicamente que realizariam a mastectomia dupla após receberem o diagnóstico de câncer de mama em estágio inicial.

'Não encontraremos outros órgãos que as pessoas retirem do corpo porque estão preocupadas em relação a uma doença', afirmou o historiador da área médica Dr. Barron H. Lerner, autor do livro 'The breast cancer wars' (2001). 'Como o câncer de mama possui grande carga emocional e recebe muita atenção, eu acredito que as mulheres às vezes se sintam obrigadas a agirem da forma mais proativa possível. Essa é uma característica social da doença.'
A maior parte dos dados sobre mastectomia profilática é da Universidade de Minnesota, onde os pesquisadores estudaram as tendências de realização da mastectomia contralateral (remoção da mama saudável junto com a mama afetada) de 1998 a 2006. O Dr. Todd M. Tuttle, chefe de cirurgia oncológica, afirmou que as taxas de mastectomia dupla mais que dobraram no período e essa tendência não apresentou sinais de diminuição.
A partir dessas tendências e fazendo uso de relatórios sem comprovação científica, Tuttle estima que pelo menos 15 por cento das mulheres que receberem o diagnóstico de câncer de mama se submeterão à retirada também da mama saudável. 'São as mulheres mais jovens que estão fazendo isso', afirmou.
O risco de mulheres com câncer de mama desenvolverem câncer na outra mama é de aproximadamente 5 por cento ao longo de 10 anos, afirmou Tuttle. Mas um estudo realizado pela Universidade de Minnesota descobriu que as mulheres estimam que esse risco seja de mais de 30 por cento.
'Eu acredito que existam mulheres que superestimem de forma acentuada o risco de terem câncer', afirmou.
A maioria dos especialistas concorda que a mastectomia dupla é uma opção razoável para as mulheres com risco genético acentuado e que possuam o gene de câncer de mama. Esse foi o caso de Allison Gilbert, de 42 anos, escritora do condado de Westchester, em Nova York, que descobriu o risco genético após perder a avó para um câncer de mama e mãe para um câncer de ovário.
Mesmo assim, ela adiou a decisão de realizar a mastectomia preventiva até perder a tia para uma forma agressiva de câncer de mama. Ela realizou uma mastectomia dupla em dezembro. (A escritora já havia removido os ovários).

'Eu acreditava que as mulheres de minha família não tinham como evitar a fatalidade', afirmou Gilbert, autora do livro 'Parentless parents' (2011), sobre como os pais de uma pessoa influenciam na forma como ela criar seus filhos. 'Aqui tive uma oportunidade maravilhosa de saber o que tenho e de agir em relação a isso e, se Deus quiser, estarei presente mais tempo na vida de meus filhos.'
Mas ela afirma que a decisão não foi tomada facilmente. A mastectomia dupla e a reconstrução exigem uma cirurgia de no mínimo 11 horas e meia e recuperação intensa. Ela obteve aconselhamento genético, participou de um grupo de apoio e examinou suas opções.
Contudo, os médicos afirmam que muitas mulheres não estão assim tão bem informadas ao tomar a decisão. No mês passado, pesquisadores da Universidade de Michigan divulgaram um estudo envolvendo mais de 1.446 mulheres que tiveram câncer de mama. Quatro anos depois do diagnóstico, 35 por cento pensavam em remover a mama saudável e 7 por cento já a tinham removido.
Notadamente, o risco de reincidência de câncer não era alto para a maioria das mulheres que retiraram as duas mamas. Na verdade, os estudos sugerem que a maioria das mulheres que se submetem à mastectomia dupla nunca realiza testes ou busca aconselhamento genético.
'O câncer de mama toca muito o sentimento das pessoas, e elas percebem a mama diferentemente de um braço ou uma parte necessária do corpo que utilizamos todos os dias', afirmou Sarah T. Hawley, professora adjunta de medicina interna da Universidade de Michigan. 'As mulheres sentem que têm total escolha sobre essa parte do corpo, e dizem: 'quero deixar o problema para trás, não quero mais ter que me preocupar'.'

 

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