Sob sigilo, d. Pedro I e suas duas mulheres são exumados pela primeira vez
Pela primeira vez em quase 180 anos, os restos mortais de d. Pedro I, o primeiro imperador brasileiro, foram exumados
Os exames - realizados em sigilo entre fevereiro e setembro de 2012 pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel, com o apoio da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) - revelam fatos desconhecidos sobre a família imperial brasileira, agora comprovados pela ciência, e compõem um retrato jamais visto dos personagens históricos.
Agora se sabe que o imperador tinha quatro costelas fraturadas do lado esquerdo, o que praticamente inutilizou um de seus pulmões - fato que pode ter agravado a tuberculose que o matou, aos 36 anos, em 1834. Os ferimentos constatados foram resultado de dois acidentes a cavalo (queda e quebra de carruagem), ambos no Rio, em 1823 e em 1829.
Ao realizar o inventário do caixão de d. Pedro, nova surpresa: não havia nenhuma comenda ou insígnia brasileira entre as cinco medalhas encontradas em seu esqueleto. O primeiro imperador do Brasil foi enterrado como general português, vestido com botas de cavalaria, medalha que reproduzia a constituição de Portugal e galões com formato da coroa do país ibérico. A única referência ao período em que governou o Brasil está na tampa de chumbo de um de seus caixões (ele estava dentro de três urnas), na qual foi gravado "Primeiro Imperador do Brasil" ao lado de "Rei de Portugal e Algarves".
Ao longo de três madrugadas, os restos mortais da família imperial brasileira foram transportados da cripta imperial, no Parque da Independência, à Faculdade de Medicina da USP, na Avenida Doutor Arnaldo, em Cerqueira César, onde passaram por sessões de até cinco horas de tomografias e ressonância magnética. Pela primeira vez, o maior complexo hospitalar do País foi utilizado para pesquisas em personagens históricos - na prática, d. Pedro I, d. Leopoldina e d. Amélia foram transformados em ilustres "pacientes", com fichas cadastrais, equipe médica própria e direito a bateria de exames.
No caso da segunda mulher de d. Pedro I, d. Amélia de Leuchtenberg, a descoberta mais surpreendente veio antes ainda de que fosse levada ao hospital: ao abrir o caixão, a arqueóloga descobriu que a imperatriz está mumificada, fato que até hoje era desconhecido em sua biografia. O corpo da imperatriz, embora enegrecido, está preservado, inclusive cabelos, unhas e cílios. Entre as mãos de pele intacta, ela segura um crucifixo de madeira e metal.
O estudo também desmente a versão histórica - já próxima da categoria de "lenda" - de que a primeira mulher, d. Leopoldina, teria caído ou sido derrubada por d. Pedro de uma escada no palácio da Quinta da Boa Vista, então residência da família real. Segundo a versão, propalada por historiadores como Paulo Setúbal, ela teria fraturado o fêmur. Nas análises no Instituto de Radiologia da USP, porém, não foi constatada nenhuma fratura nos ossos da imperatriz.
"Unimos as ciências humanas, exatas e biomédicas com o objetivo de enriquecer a História do Brasil. A cripta imperial foi transformada em laboratório de especialidades, com profissionais usando os equipamentos mais modernos em prol da pesquisa histórica", disse a pesquisadora, que defendeu hoje pela manhã sua dissertação de Mestrado na USP, após três anos trabalhando sob sigilo acadêmico. "O material coletado será útil para que as pesquisas continuem em diversas áreas ao longo dos próximos anos."
Os exames realizados nas ossadas da família imperial brasileira revelam fatos desconhecidos - e agora comprovados cientificamente - sobre Dom Pedro I e suas duas mulheres
Dom Pedro I foi enterrado e não cremado, como afirma texto no Monumento à Independência, no Ipiranga, que abriga a cripta com os restos mortais do imperador e das duas imperatrizes
Dona Leopoldina não teve o fêmur quebrado. Acreditava-se que ela teria caído ou sido derrubada de uma escada, sofrido uma grave fratura que culminaria com sua morte
A segunda mulher de Dom Pedro I, Dona Amélia de Leuchtenberg, foi mumificada. Seu corpo está preservado, inclusive cabelos, unhas e cílios
Dom Pedro I sofreu fraturas em quatro costelas. A causa seriam duas quedas de cavalo, em 1823 e 1829 - ele era um apaixonado por velocidade
Dona Leopoldina foi enterrada com a mesma roupa com que foi coroada imperatriz do Brasil. As gemas dos brincos de ouro não eram pedras preciosas, mas resina. Ou seja, bijuteria
Dom Pedro I foi enterrado como Dom Pedro IV de Portugal, com roupas de general. Todas as insígnias encontradas são portuguesas, sem referências em suas vestes ao passado imperial brasileiro
Quando morreu, aos 66 anos, Dona Amélia tinha escoliose severa - desvio na coluna que a fazia andar torta - e osteoporose
Dom Pedro I não era tão alto como se supunha. Ele media entre 1,66 m e 1,73 m - alto para um português da época, mas de mediano para baixo para um homem brasileiro de hoje em dia
Dom Pedro I foi enterrado com solo da região de Porto, em Portugal. Possivelmente, uma homenagem da cidade ao homem que liderou o 'Cerco do Porto' (1832-1833)
Dona Amélia foi enterrada totalmente de preto. Ela guardou luto por 42 anos, após a morte de Dom Pedro I
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