domingo, 3 de fevereiro de 2013



Pelo fim das placas de amarração do amor

MADSON MORAES: "Tarólogos e adivinhos, atualizem seus Aurélios, deem cerveja aos seus Houaiss ou levem para os botecos seus Michaelis para estes conhecerem os atuais vocábulos do amor.
 
 
 
Pelo fim das placas de amarração do amor / Créditos: Thinkstock
 
Por MADSON MORAES
Dia desses, ao atravessar a faixa de pedestres inspirado pela moça de cachos bethânicos que passava, dei de cara com uma placa com os dizeres: “Faço amarração definitiva para o amor! Pagamento após o resultado”. Dias depois, cruzei com outra destas promessas nos postes: “Trago a pessoa amada a seus pés. Trabalhos garantidos”. Para fechar a trinca de placas, eis que me deparo com esta mais inspirada: “Pai Guerreiro e suas poderosas mestres. Amarração para o amor em 7 dias!”.
Neste instante, fui assaltado pela severa questão: há alguém, em sua complexa metamorfose, que deseje viver amarrada em definitivo a outra pessoa? Estas placas que prometem amores inundam nossas esquinas e postes e não apenas em São Paulo. Uma amiga retornou de New York estes dias e me confirmou que planfetos como estes circulam pelo metrô da cidade. Aqui no Brasil, certamente, nosssa linguagem completa a irreverência nos dizeres. Há cartazes que prometem trazer seu amor em 24 horas. Outras placas, menos ligeiras e mais comprometidas com o tempo, em 48h e outras que, proletárias, vão além no trabalho e prometem amores em 7 dias. Todas seguem fórmulas de amarração estrangeiras a nós.
Tais serviços de terceirização do amor são, para mim, adventícios. Não que eu não confie na Taróloga Mariazinha, na Mãe Fulana, no Pai Chico ou em Dona Lúcia da Bahia. Não coloco em xeque suas relações diplomáticas com o invisível, tampouco questiono suas faculdades além-mundo e seus respeitáveis flertes com as propriedades divinatórias e espirituais. Mas, ora, isso de amarração definitiva não existe! O definitivo tem em seu núcleo o fim delicadamente premeditado.
Entendo que é preciso subornar de vez em quando o presente com essas promessas de amores definitivos. Mas estas promessas de amarrar o seu amor em definitivo sabotam o entusiasmo, este sempre sinônimo de risco e sabor numa relação. Amor é uma bolsa de valores. Num dia sobe, no outro cai, em outras ocasiões vende-se os títulos do tesouro do coração para cobrir os prejuízos. E é justamente porque ninguém sabe o que vai lucrar no presente que vale a pena iludir o futuro com promessas longes de definições absolutas.
O amarrar é fora de moda, é démodé, é verbo que não se adequa à nomenclatura amorosa de hoje em dia. Minha geração não diz mais "Estou amarradaço em você, baby" ou "Me amarro nesse teu jeitinho maroto, broto". Perdoem-me, briosas futurólogas de longos vestidos! Atualizem seus Aurélios, deem cerveja aos seus Houaiss ou levem para os botecos seus Michaelis para estes conhecerem os atuais vocábulos do amor.
O amarrar, tal como empregado nas placas, tem o mesmo entusiasmo que a escova definitiva para os cabelos. Não existe isso de 'definitivo'. Logo os fios entortam, os cachos se desfazem, e tome progressiva para abrandar os fios em suas rebeldias capilares. O definitivo é uma baliza difícil de realizar. Amor é bicho instruído e Drummond sempre esteve certo. Pula a árvore, sobe no muro e se estrepa depois. Quem quer segurança numa relação que contrate uma equipe de segurança patrimonial.
A entrega não significa dependência e o compromisso não é a mesma coisa que assumir. Amarração não dá, rainhas do adivinho! É mais interessante pegar a cachaça da amarração, fazer uma festa, deitar e rolar. Feito isto, nas 24 horas que irão se seguir, é o momento de entregar-se à ressaca que apenas os braços bêbados acumpliciados a outros braços cheios de ressaca conseguem entender. E, assim, estragamos a pessoa amada em três dias para que ela entre na medida apenas dos nosso abraços.

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