Que dia mesmo é hoje?
O ano de 2013 ainda não começou. Primeiro de janeiro é uma data simbólica, mas o Brasil só engrena num novo ano um pouco depois. Para uns, é uma semana, para outros, o ano começa com o fim das férias, e para muitos e muitos o ano começa no Brasil só depois do Carnaval.
Mas isso não devia
ser encarado como algo errado, a escolha do primeiro de janeiro é mesmo uma
formalidade iniciada na Europa e espalhada no mundo. Para muitos povos, o início
de um novo ano começa em datas diferentes, e em boa parte deles a data é móvel,
se baseia no calendário lunar ou outro qualquer.
E mesmo a contagem
dos anos é diferente, o 2013 é uma contagem cristã, a partir do suposto
nascimento de Jesus Cristo.
Mas bom mesmo é
gente tão despreocupada que não conta os anos e nem mesmo os dias. Não estou
falando dos nossos índios, mas de um povoado que já foi muito importante em
Minas Gerais. Chama-se Desemboque, fica no município de Sacramento, teve uma
população grande enquanto se explorava ouro, e é considerado um centro de
formação da cultura mineira. Com o fim do ouro, foi-se esvaziando. Hoje restam
algumas dezenas de casas e uma população minúscula.
Certamente, hoje
contam os dias e os anos lá, mas não foi sempre assim.
Na década de 1960
um ator contou uma história, de que estava com esgotamento nervoso, nome
que se dava na época ao que hoje chama-se estresse, e queria um lugar bem calmo
pra descansar.
Foi então levado por
um amigo, que acho que era o Lima Duarte, que nasceu lá, para passar um tempinho
no Desemboque.
Um dia, de manhã, o
cara perguntou ao amigo se era quarta ou quinta-feira, e o amigo não sabia.
Bateu a curiosidade e perguntaram pro pessoal que os recebia, mas eles também
não sabiam. Perguntaram ao vizinho, que nem ligava pra isso. Foram de casa em
casa, ninguém sabia que dia da semana era.
Com aquela ânsia de
querer saber que dia era, coisa de quem dá importância a datas, o que não
acontecia lá, acabaram contratando um cavaleiro para ir à cidade só para
perguntar em que dia da semana estavam e voltasse.
Ô, lugar que era bom
de se viver!
Em
Minas continua tendo gente com o espírito do Desemboque. Lembro-me do meu primo
Nicolau, jornalista que trabalhava numa emissora de TV em Varginha, e sua
família morava em Cabo Verde (não o país, há uma cidade mineira com esse
nome).
Uma vez, já faz mais
de uma década, fui passar o Carnaval na minha terra e dei uma parada em Cabo
Verde. O Nicolau estava lá. Perguntei pra ele:
– Ô, Nicolau, te
deram folga no Carnaval? Nessa época uma equipe reduzida de televisão, como a
sua, não dá folga pra ninguém.
– Pedi demissão –
respondeu calmamente.
Sabendo das
dificuldades para jornalista arrumar emprego na região, ainda mais para alguém
especializado em jornalismo televisivo, quis saber que projetos ele
tinha.
Mais calmamente
ainda, naquela sexta-feira modorrenta do início de fevereiro, ele
respondeu:
– Vou descansar esse
restinho de ano.
Mouzar
Benedito
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