segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013



Que dia mesmo é hoje?

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O ano de 2013 ainda não começou. Primeiro de janeiro é uma data simbólica, mas o Brasil só engrena num novo ano um pouco depois. Para uns, é uma semana, para outros, o ano começa com o fim das férias, e para muitos e muitos o ano começa no Brasil só depois do Carnaval.

Mas isso não devia ser encarado como algo errado, a escolha do primeiro de janeiro é mesmo uma formalidade iniciada na Europa e espalhada no mundo. Para muitos povos, o início de um novo ano começa em datas diferentes, e em boa parte deles a data é móvel, se baseia no calendário lunar ou outro qualquer.

E mesmo a contagem dos anos é diferente, o 2013 é uma contagem cristã, a partir do suposto nascimento de Jesus Cristo.
 
Mas bom mesmo é gente tão despreocupada que não conta os anos e nem mesmo os dias. Não estou falando dos nossos índios, mas de um povoado que já foi muito importante em Minas Gerais. Chama-se Desemboque, fica no município de Sacramento, teve uma população grande enquanto se explorava ouro, e é considerado um centro de formação da cultura mineira. Com o fim do ouro, foi-se esvaziando. Hoje restam algumas dezenas de casas e uma população minúscula.
Certamente, hoje contam os dias e os anos lá, mas não foi sempre assim.
 
Na década de 1960 um ator contou uma história, de que estava com esgotamento nervoso, nome que se dava na época ao que hoje chama-se estresse, e queria um lugar bem calmo pra descansar.
Foi então levado por um amigo, que acho que era o Lima Duarte, que nasceu lá, para passar um tempinho no Desemboque.
Um dia, de manhã, o cara perguntou ao amigo se era quarta ou quinta-feira, e o amigo não sabia. Bateu a curiosidade e perguntaram pro pessoal que os recebia, mas eles também não sabiam. Perguntaram ao vizinho, que nem ligava pra isso. Foram de casa em casa, ninguém sabia que dia da semana era.
Com aquela ânsia de querer saber que dia era, coisa de quem dá importância a datas, o que não acontecia lá, acabaram contratando um cavaleiro para ir à cidade só para perguntar em que dia da semana estavam e voltasse.
 
Ô, lugar que era bom de se viver!
Em Minas continua tendo gente com o espírito do Desemboque. Lembro-me do meu primo Nicolau, jornalista que trabalhava numa emissora de TV em Varginha, e sua família morava em Cabo Verde (não o país, há uma cidade mineira com esse nome).
Uma vez, já faz mais de uma década, fui passar o Carnaval na minha terra e dei uma parada em Cabo Verde. O Nicolau estava lá. Perguntei pra ele:
– Ô, Nicolau, te deram folga no Carnaval? Nessa época uma equipe reduzida de televisão, como a sua, não dá folga pra ninguém.
– Pedi demissão – respondeu calmamente.
 
Sabendo das dificuldades para jornalista arrumar emprego na região, ainda mais para alguém especializado em jornalismo televisivo, quis saber que projetos ele tinha.
Mais calmamente ainda, naquela sexta-feira modorrenta do início de fevereiro, ele respondeu:
– Vou descansar esse restinho de ano.
 
 
Mouzar Benedito
 
 
 
 

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